sábado, 4 de fevereiro de 2006

Conto: Debate no Cemitério de Pés Juntos.

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Problemas que afetam os mortos e os vivos da cidade de Pés Juntos estão sendo debatidos no cemitério. Foi o que constatou o mosquito Pitôco, repórter do Viramundo, depois de receber a informação de que, naquele campo santo, estava ocorrendo algo que preocupava os dirigentes de Pés Juntos a ponto de afirmarem: "Temos que tomar providências para que essa assombração não chegue a nosso povo".

Ai! Ui! Esses foram os gemidos ouvidos pela reportagem ao adentrar o cemitério Paz do Senhor. Muitas pessoas de Pés Juntos achavam que os sons poderiam ser o resultado de um namoro proibido, ou seja, de alguém que estava fazendo "coisa que não presta", como há quem diga por lá. Mas Pitôco foi cauteloso e descobriu o mistério: tratava-se de uma inquietação e, consequentemente, proposta de debate dos cadáveres do Coronel Catipimba e de João Sacupemba em virtude de superlotação no cemitério.

Joãozinho, como chamavam os amigos quando Sacupemba esteve sobre o solo de Pés Juntos, iniciou o debate culpando Catipimba pelo aperreio no cemitério, lembrando a passagem do Coronel no Legislativo, que não fiscalizou e denunciou as armadilhas do Executivo que recebeu a verba e não realizou a obra do cemitério como deveria. "Se não tivesse havido fraude não estaríamos nesse sufoco, cadáver por cima de cadáver", disse Sacupemba.

Já Catipimba pôs a culpa em Sacupemba por ter ajudado a eleger para o Legislativo gente da sua linhagem e não ter questionado e denunciado as maracutaias.

Os Debatedores chegaram à conclusão de que não adianta debate no subsolo. Para abrir uma janela que possibilite ver a palavra vida, tem que debater no solo e sem pés juntos.

Quando alguém chega a Pés Juntos se defronta com a frase: "Sejam bem Vindos", mas há almas que não param de gemer...Ai! Ui!

Manassés Pinheiro de Almeida.
Luís Gomes-RN.